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Saúde mental para empresários: um assunto negligenciado
O contexto da positividade tóxica esconde as mazelas da saúde mental do empresário
Existe uma visão caricata a respeito do empreendedorismo no Brasil. Em geral, empresários são vistos como conservadores, autoconfiantes e com negócios inabaláveis. No entanto, pouco se discute sobre o quão prejudicial é a rotina de um empreendedor. Essas pessoas muitas vezes trabalham além da medida convencional; não é incomum escutar que começaram trabalhar às 8h e terminam às 20h.
De acordo com dados do Sebrae, micro e pequenas empresas representam 99% dos negócios do Brasil, sendo responsáveis por 52% dos empregos. A saúde mental tem sido discutida no ambiente de trabalho, do ponto de vista dos colaboradores, mas ainda é negligenciada para empresários.
Para que o empresário mantenha seu negócio ativo, ele precisa adquirir habilidades que extrapolam a sua habilidade única. Vamos ao seguinte exemplo: um padeiro é um especialista em fazer pães, ele faz o que ama. Mas ele decide criar um negócio. Para que esse cenário funcione, ele precisa realizar um investimento para a abertura do negócio, contratar pessoas e gerenciá-las, assim como contingenciar custos, realizar previsões de faturamento entre outras atividades importantes. São habilidades que não se ensinam ao empresário, ele precisa lidar com isso no dia a dia. Ter um negócio vai muito além de fazer pães, que é o que ele ama. Essas atividades somadas geram estresse, por serem atividades que não são a sua principal expertise e exigem do empresário tempo e dedicação.
A pandemia despertou ainda mais o estresse dos empresários nesse contexto. O ato de demitir custa a saúde emocional do empresário, além das dívidas que se acumulam nesse período. Só para se ter uma ideia, de acordo com dados do Sebrae e FGV, 36% das empresas acumularam dívidas na pandemia enquanto o Pronampe, programa do governo, auxiliou com crédito mais de 500 mil micro e pequenas empresas.
Muitos empresários não cuidam da sua saúde física por pensar única e exclusivamente no trabalho. Afinal, este é o seu patrimônio. O fator para tomada de decisões constantes, responsabilidade exclusiva do fundador, também é determinante para esse nível de entrega absoluto onde se negligencia a saúde. Aqui se faz o ditado: "Gasta a saúde para ganhar dinheiro e gasta o dinheiro para cuidar da saúde".
Esse assunto não é discutido dentro do ambiente dos empresários. O contexto da positividade tóxica, que obriga os sujeitos a serem exímios proclamadores do bem estar e sucesso acima de tudo, esconde as mazelas da saúde mental do empresário. É preciso humanizar a visão fantasiosa construída pelo mito do empresário brasileiro - muitos precisam de ajuda e apoio psicológico e familiar.